contato@rpzestrategia.com.br
+55 62 98271-1083

Podcast Inteligência Estratégica: #04 - Representatividade Racial na Comunicação (relato)

RPZ - Marketing Estratégico > Conteúdo > Uncategorized > Podcast Inteligência Estratégica: #04 – Representatividade Racial na Comunicação (relato)

Podcast Inteligência Estratégica: #04 – Representatividade Racial na Comunicação (relato)

Publicado por: Rodrigo Chaves
Categoria: Uncategorized

O episódio de hoje é um pouco diferente, será mais um relato sobre uma situação infelizmente comum no meio da comunicação, que envolve a questão de representatividade racial.

Você pode ouvir o episódio no Spotify, Itunes ou ler a transcrição abaixo, espero que goste!

TRANSCRIÇÃO

Olá a todos, esse é o Inteligência Estratégica, voltando depois de um tempo parado, com novos formatos, a começar por hoje que falaremos um pouco sobre representatividade racial na comunicação, você também pode ver a transcrição do programa no site da Rapoza: www.rapoza.com.br , só procurar pelo programa na área de conteúdo.

Hoje teremos um relato sobre um exemplo de situação que acontece muito no meio e falaremos um pouco sobre ele depois, vamos então ao relato:

Um cliente solicita um anúncio para a agência, é uma clínica médica de renome e que precisa passar credibilidade, o diretor de arte – o responsável por pensar a parte gráfica – pensa uma arte mais sóbria e com um médico nela, um médico de pele branca.

O diretor de arte acessa um banco de imagens na internet e procura pela palavra-chave “médico”, o banco de imagens seleciona várias fotos de médico para o diretor de arte, e devido ao algoritmo e a (entre aspas) “inteligência artificial” várias fotos de médicos de pele BRANCA são mostradas.

O diretor de arte então seleciona uma das fotos e a aplica ao seu material, à arte, seu chefe – o Diretor de Criação – que é mais consciente quanto a questões raciais, alerta o diretor de arte e pede que ele utilize uma imagem de um médico negro.

Após certa dificuldade o diretor de arte consegue encontrar uma imagem que se adeque no banco de imagens, altera a arte e pronto, passa pela aprovação do Diretor de Criação.

O Diretor de Criação então mostra a arte para o cliente, o cliente a observa e sua cara se contorce entre uma mistura de sorriso e desgosto, ele se inquieta na cadeira, ele sabe o que não quer, mas não sabe como dizer, não que ele sinta vergonha pelo pensamento em si, mas a vergonha é conseguir o que quer sem parecer o que realmente é.

O cliente então diz “hmmm ficou muito boa a estrutura dos elementos, mas o jaleco desse médico não está passando muita credibilidade, entende?”.
O Diretor de Criação pergunta para entender o porquê do jaleco  não passar credibilidade e o cliente apenas responde “ah, não sei, não gostei”.

A imagem é trocada, outro médico negro, com um jaleco muito mais imponente, muito mais credibilidade, o Diretor de Criação, confiante, vai novamente até o cliente aprovar a arte.

O cliente avalia a arte novamente e o explica:  “Ainda não, ainda não tá passando a credibilidade que nós queremos.” e apontando para o seu computador com várias imagens de médicos de pele clara, aponta para uma e diz “Esse tipo de jaleco aqui que estou falando, essa imagem aqui por exemplo está ótima! Pode usar essa aqui mesma!” 

O Diretor de Criação percebe então onde se meteu, sua vontade é de esfregar a cara do cliente no notebook, mas as contas em casa estão se acumulando e o cliente já pagou uma boa quantia e pagou adiantado. Engole então o orgulho, lá no fundo do estômago, e atende a solicitação do cliente, mais uma publicidade, mais um outdoor, post nas redes sociais, banner no site, com um médico branco em destaque.

A história não termina por aí, a publicidade é veiculada e a sociedade mais uma vez associa que médicos são pessoas brancas, assim como outras profissões, 

  • a ponto de acharem estranho quando encontram um médico ou um engenheiro negros, 
  • a ponto de não darem o mesmo valor a eles que dariam a profissionais do mesmo gabarito, só que brancos, 
  • a ponto de um jovem negro não conseguir se enxergar em um futuro onde ele também seja um médico ou engenheiro, porque isso é coisa de branco, 
  • a ponto.

Essa história é um exemplo do que acontece diariamente no mercado da publicidade, talvez não exatamente assim, às vezes não tem nem uma pessoa no meio do processo para sequer alertar do racismo sendo cometido, e ele passa assim, EM BRANCO.

Esse foi um relato fictício do que acontece na no dia-a-dia de agências, freelancers ou até daquele sobrinho que tenta quebrar um galho, mas acaba causando mais prejuízo.

Em um momento onde a violência racial  – que sempre existiu –  finalmente com o advento do celular esfregada na cara da sociedade, é importante contar algumas verdades como essa, nesse instante de lucidez e atenção que a sociedade tá passando 

“Mas Rodrigo, eu tenho pessoas negras na minha publicidade”, tudo bem, excelente, mas elas estão em profissões ditas (entre aspas) “nobres” ou apenas como um figurante aleatório que tenta criar um vínculo de empatia com o seu público negro para que eles comprem mais do seu produto?

É perceptível, veja por você mesmo, digite no Google “médico anúncio” ou “médico propaganda” e tente achar uma pessoa negra que não esteja com roupa de enfermeiro, porque também há isso, se é negro, é enfermeiro, se é branco, é medico. Faça o mesmo com “engenheiro anúncio” ou com “engenheiro propaganda”.

Foto: Internet

 
Temos números,  no relatório do Instituto Locomotiva de novembro de 2018 eles trazem a informação de que em 90% das campanhas publicitárias, os protagonistas são brancos, isso em um país onde mais da metade da população é negra. No entanto o relatório não traz se esses outros 10% que aparecem na publicidade são em profissões como médicos, advogados ou engenheiros, porque acredito que nestas profissões, o percentual seria ainda menor.

A representatividade na comunicação – pode não parecer – mas é algo extremamente importante, porque ela ajuda a criar associações na cabeça das pessoas, se ela veem somente médicos brancos sendo protagonistas, então para a sociedade, todos os bons médicos serão brancos.

É nosso papel como pessoas que trabalham com marketing e comunicação, principalmente quando temos poder de decisão, lembrar dessas questões ao aprovar os anúncios que veiculamos, e explicar aos anunciantes – sejam os clientes ou as empresas nas quais trabalhamos – a importância da representatividade.
 

E se mesmo explicando, o anunciante em questão for contra, pense bem se vale a pena atendê-lo.

Autor: Rodrigo Chaves
Estrategista Empresarial com Foco em Marketing Trabalha com marketing e comunicação há mais de 10 anos, especialmente com inteligência de dados, geomarketing e marketing estratégico.

Deixe um comentário